O
advogado Daniel Pereira da Costa Lucas, também conhecido como Pastor Daniel, que
participou das negociações para a transferência do dinheiro do Caboprev, dando
um prejuízo de R$ 92 milhões ao Fundo de Previdência do município do Cabo de
Santo Agostinho, resumiu numa frase o lucro que teve com o ato de corrupção
investigado pela Polícia Federal e que resultou na prisão do prefeito Lula
Cabral (PSB):
"Deus
me deu R$ 2 milhões num dia”.
A informação foi divulgada pela TV Globo que obteve acesso ao inquérito da Polícia
Federal que investiga a transferência de R$ 92 milhões do Fundo de Previdência
dos Servidores do Cabo de Santo Agostinho (Caboprev), no Grande
Recife, para um fundo de investimento composto por ativos de risco. Em sua
primeira fase, a Operação Abismo culminou na prisão do prefeito do
município, Lula Cabral (PSB), e outras 22 pessoas. Na quarta (31), a PF desencadeou
uma nova fase da operação, cumprindo dez mandados de busca e apreensão e um de
prisão preventiva em Pernambuco e em Goiás.
De
acordo com o inquérito, o advogado Daniel Pereira da Costa Lucas presta serviço
à empresa Terra Nova, que, segundo a polícia, indicou o fundo de investimento
para onde o dinheiro foi transferido. O advogado já teve a prisão preventiva
decretada pela Justiça durante a primeira fase da Operação Abismo, mas está
foragido.
O
inquérito também revela que existem indícios de uma negociação de propina entre
o advogado e o prefeito Lula Cabral e o teor da negociação foi relatado em uma
conversa entre Daniel Lucas e o empresário Gean Lima, sócio da Terra Nova. O
diálogo que consta no inquérito aconteceu em 18 de setembro de 2017, pouco
antes de o advogado se encontrar com o prefeito, segundo a PF.
Na
conversa, Daniel diz: "Agora é só a gente sentar com o pessoal que tá
chegando daqui a pouco, que é o número um, e está praticamente decidido
já". No inquérito, a Polícia Federal considera a possibilidade de o
"número 1 do Cabo de Santo Agostinho ser muito provavelmente uma alusão ao
prefeito Lula Cabral".
Na
mesma conversa, Daniel afirma para Gean Lima que o prefeito Lula Cabral
"já tá querendo saber como é que eu vou resolver a vida dele, eu digo:
venha 'simbora' pra gente combinar". No dia 25 de outubro de 2017, foi
feita a primeira transferência de dinheiro entre o Caboprev, que retirou R$ 4,5
milhões de uma conta na Caixa Econômica Federal, e o fundo de investimento
Bittenpar, indicado pela Terra Nova.
De
acordo com o inquérito, dois dias depois da primeira transferência, o prefeito
do Cabo se reuniu com representantes da Terra Nova e "teria mandado Célia
Verônica, presidente do Caboprev, resgatar R$ 88 milhões que ainda estavam na
Caixa Econômica" e aplicar esse valor no fundo indicado pela Terra Nova.
Célia, por sua vez, disse que "ia aplicar com cautela".
Numa
mensagem de áudio enviada pelo aplicativo WhatsApp para a cunhada dele, Daniel
Lucas comemora: "Deus me deu R$ 2 milhões num dia. É difícil alguém ganhar
um dinheiro desses num dia. E Deus me deu, né?".
Diante
de mais uma recusa da presidente do Caboprev, o secretário de Gestão Municipal,
Lula Lima, teria dito a Célia: "O prefeito quer que aplique tudo".
Assim,
no dia 31 de outubro de 2017, R$ 88 milhões foram retirados da conta do
Caboprev e transferidos para a Bittenpar. Somadas as duas transferências, o
valor total chega a 92,5 milhões, aplicados, de acordo com a Polícia Federal,
em um fundo de alto risco para os investidores.
Ainda
de acordo com o inquérito, no dia 6 de novembro de 2017, o advogado Daniel
Lucas teria alugado um jatinho pelo valor de R$ 110 mil e viajado para a cidade
de Jundiaí, no interior de São Paulo, onde mora José Barbosa Machado Neto, dono
da empresa Bittenpar.
Na
viagem, Daniel Lucas estava acompanhado de Leonardo Leite Mota, funcionário de
uma empresa de locação de carros que presta serviço à Prefeitura do Cabo de
Santo Agostinho. André da Câmara Barros Maciel, que, na época, era casado com
Fabíola Karla de Oliveira Maciel, filha do prefeito Lula Cabral e eleita deputada estadual, também viajou
com Daniel.
O
inquérito da Polícia Federal revela também que, depois que o grupo retornou a
Pernambuco, a PF interceptou conversas entre Daniel Lucas e Marco Aurélio
Carvalho, um dos sócios da Terra Nova. Marco Aurélio pergunta: "Alguma
notícia do prefeito?" e Daniel responde: "Aquele p**** tá tranquilo,
depois do colírio".
Segundo
a Polícia Federal, a palavra "colírio" pode ser uma alusão a uma
propina que teria sido paga ao prefeito Lula Cabral em virtude dos
investimentos realizados pelo Caboprev nos fundos da Terra Nova. A investigação
da PF também diz que André Maciel, ex-genro de Lula Cabral, teria ficado
responsável por indicar uma conta para receber R$ 47 mil, supostamente
destinados ao prefeito.
A
investigação aponta que, dos R$ 92,5 milhões aplicados pelo Caboprev em fundos
de investimentos de alto risco, no mínimo R$ 6 milhões podem ter sido
desviados. De acordo com a PF, parte desse dinheiro pode ter sido usado para
comprar imóveis e carros de luxo.
O
inquérito também informa que Leonardo Leite Mota "adquiriu uma caminhonete
S-10, zero quilômetro, no valor de R$ 170 mil" e teria feito a compra
acompanhado de André Maciel. O carro teria sido pago pela empresa Bittenpar.
Entre
os bens comprados pelo advogado Daniel Lucas, de acordo com o inquérito, está
um apartamento no valor de R$ 400 mil, em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, no
Grande Recife.
O
inquérito da Polícia Federal revela, ainda, que Daniel Lucas, em uma semana,
teria gasto mais de R$ 900 mil em carros de luxo. O advogado comprou três
carros do mesmo modelo. Cada um no valor aproximado de R$ 130 mil e outro carro
blindado, que custou R$ 600 mil.
Em
novembro de 2017, o advogado foi acusado, na Operação Torrentes, de intermediar
a negociação de propina entre os coronéis da Casa Militar e o empresário
Ricardo Padilha. No dia 22 de janeiro de 2018, mesmo após ter sido preso,
Daniel foi flagrado em outra conversa, dizendo que tem reuniões agendadas em
sete prefeituras pernambucanas. Ele já havia sido preso outras três vezes pela
PF.
Respostas
da defesa
O
advogado Emerson Leônidas, que defende Daniel Lucas, disse que ele deverá se
apresentar na sexta-feira (2) ou, no máximo, até segunda-feira (5) à Polícia
Federal, mas que só vai prestar depoimento na Justiça. Emerson informou, ainda,
que o acusado vai aguardar o posicionamento do Ministério Público de Pernambuco
sobre a Operação Abismo.
O
advogado Bóris Trindade, que defende Leonardo Leite Mota, disse que o Superior
Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus a Leonardo e que ele vai responder o
inquérito em liberdade.
Responsável
pela defesa do prefeito Lula Cabral e do secretário de Gestão MunIcipal, Lula
Lima, o advogado Carlos Barros disse que não vai antecipar os argumentos da
defesa. Do G1
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