quarta-feira, 4 de julho de 2018

Peça censurada consegue dinheiro na internet para se apresentar em Garanhuns


           Um dia após ter aberto uma página de financiamento coletivo, o grupo que está organizando por conta própria a vinda da peça "O Evangelho segundo Jesus, a Rainha do Céu" para Garanhuns canta vitória: já conseguiram arrecadar mais do que os R$ 6 mil inicialmente pretendidos. 

"É a resposta do povo a essa decisão arbitrária do prefeito e do governo de Pernambuco", comemora o ator Joesile Cordeiro, um dos 50 membros do grupo responsável pela ação. No Facebook, o evento que divulga o movimento já congrega cerca de dois mil integrantes. "Queremos desconstruir a versão da mídia de Garanhuns de que a população não quer que a peça aconteça. Esse recorte que eles apontam não representa o que está realmente acontecendo aqui", denuncia.

As contribuições vieram de 112 pessoas oriundas de onze estados brasileiros diferentes (inclusive de lugares geograficamente distantes do Agreste pernambucano, como Amazonas, Tocantins e Rio Grande do Sul). Agora que a meta inicial foi batida e já está garantido um valor para translado, hospedagem e alimentação da equipe cênica, a página vai continuar aberta durante os oito dias previstos.

"A atriz e sua equipe tinham se oferecido para vir de graça, por entender que esta era uma questão política essencial. Mas é mais que merecido que recebam um cachê. Além disso, há custos extras em relação à apresentação", adianta Joesile.

Segundo ele, o espetáculo não precisa de muitos recursos cenográficos, mas será necessário contratar serviços de logística e de segurança, já que a peça tem sido alvo de inúmeras expressões de intolerância. "Estamos printando e guardando ameaças que vêm sendo proferidas nas redes sociais, para tomar providências legais se for necessário", destaca.

O grupo vem realizando visitas técnicas a vários espaços em Garanhuns, mas por enquanto prefere não divulgar onde o evento vai acontecer por temer retaliações. "O movimento tem sido muito bonito. Algumas pessoas chegaram a oferecer suas próprias casas para sediar o evento, mas a ideia é encontrar um local mais amplo, até porque a demanda será grande", adianta. 

Segundo Joesile o clima na cidade está delicado. "Quando o prefeito Izaías Régis se posicionou de forma tão veemente contra o espetáculo, terminou direcionando por tabela as pessoas a aderirem a um discurso de ódio que distorce tudo aquilo a que a peça se propõe", afirma. 

"Estamos lutando para sermos consideradas seres humanos, e vejo com muita felicidade essa movimentação dos artistas. Queria que esse movimento tivesse um grande alcance nacional, porque a gente não pode deixar que esse tipo de censura volte ao Brasil", disse a estrela da peça, a atriz transexual Renata Carvalho. Da Folhape.

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